O
primeiro dia de intervenções na paisagem urbana de Rio Grande, promovida pelo
Encontro Internacional de Graffiti, atraiu centenas de pessoas à Avenida
Honório Bicalho, que interagiram com o expressivo e colorido trabalho de
artistas de diversas partes do país e do mundo. O Meeting of Styles Brasil, em
mais uma edição, traz ao município a força do diálogo entre culturas e etnias, rompendo com o cenário cinzento composto por
asfalto e muros altos da zona portuária.
O
MOS Brasil assinala nossa cidade como um dos principais polos incentivadores da
arte de mural no país, concentrando criações dos mais significativos nomes do
graffiti mundial. Moradores do Balneário Cassino, no ano de 2015, celebraram a
realização do evento, bem como o legado deixado nos muros da Sociedade Amigos
do Cassino – SAC. Esta é a vez dos moradores do Bairro Getúlio Vargas,
trabalhadores do Polo Naval e demais espectadores alegrarem-se com a nova
vista, repleta de identidade.
Segundo
Lucas Stuczinski, a recepção este ano foi ainda maior, acontecimento esperado
pelo público e pelos patrocinadores, o Meeting of Styles Brasil tem excelente
estrutura física e um espaço considerável para a prática da pintura: “estamos
dando um pouco de cor, de vida para esse ambiente aqui no Porto que é tão
cinza, tão bege, onde só transitam, praticamente, caminhões e carros”. E
acrescenta: “ver a população vindo a pé, aqui caminhando, vendo tudo;
apreciando a arte é satisfatório”.
Lucas
elucida, ainda, a escolha pelos muros do Porto para sediar esta segunda
realização do MOS Brasil em Rio Grande: “o intuito é a gente espalhar bastante
a arte e eu fico muito feliz de, na verdade, ser perto de uma zona mais
carente, digamos assim, porque eles são os menos prestigiados no dia-a-dia em
tudo e aqui é uma oportunidade que eles estão tendo também. A molecada aí tá
transitando, tem uns até se arriscando no spray; a mensagem é vida, é cor e tá
todo mundo feliz!”
Refletindo
a relevância desta forma de arte na comunidade, 28 crianças do projeto social
Vasquinho do BGV, participaram da tarde ensolarada e replena de atividades
culturais. O objetivo do projeto, de acordo com o seu coordenador Mano Jorge, é
trabalhar para resgatar as crianças que estão em vulnerabilidade social das
ruas, mostrando um mundo bem melhor do que este que se vive hoje. Conta o
coordenador que a mudança desta dura realidade perpassa a inserção da cultura e
do esporte na rotina das crianças: “acredito que o graffiti, o hip hop e o
esporte incentivam e tiram a criança da rua. Esse trabalho que acontece hoje,
esse trabalho de graffiti, de cultura, com certeza é incentivo para toda a
comunidade Rio-Grandina”.
As inscrições nos muros também
inspiram e incentivam jovens a manifestar suas ideias; paredes são outdoors,
mostram a realidade vivida e a busca pelo espaço que os identifica. Flávio
Mendes, de Brasília, que participou de
edições anteriores na Alemanha, na Itália, em Porto Alegre e pela segunda vez
em Rio Grande, revela sua identificação com a arte urbana: “é uma maneira de
mostrar que a gente tá vivo. Eu comecei a pintar por isso, eu queria manifestar
um pouco as minhas ideias na parede, trazer um pouco de paz. Na época eu era
adolescente e um pouco confuso, queria mostrar um pouco da minha confusão na
parede, ou queria me auto afirmar pintando; sendo alguém”.
Para
Flávio, o Graffiti é uma ferramenta de transformação: “sempre desenhei, eu era
autodidata, desenhava em casa, mas não mostrava meu desenho pra ninguém. Quando
estava com 16 anos eu tive um problema, fui detido pela polícia e minha mãe me
colocou de castigo. Ai nesse castigo eu escutava muito Rap, eu escutei uma rádio
anunciando uma oficina de Graffiti em uma cidade próxima da minha, ai eu fui e
depois que eu tive esse contato com a arte eu vim parar aqui, foi no que deu.
Foi uma transformação na minha mente, que eu era um cara um pouco sem
perspectiva. Hoje eu sou casado, tenho uma família e pago as minhas contas
através disso”.
Cristiane
Monteiro, conhecida como Crika, e Karen Fidelis, a Kueia; ambas residentes no
estado de São Paulo salientam a importância da inserção do Graffiti em lugares
diversos, as desigualdades sociais são paineis que destacam ainda mais a arte
comunicada. Karen relata que gosta de pintar em todos os ambientes, em locais
que todos tenham acesso e consequentemente despertar o público para o
aprendizado.
Em sua primeira vez no sul do país e
também no MOS; Crika concorda que a arte de inspiração urbana precisa habitar
diferentes lugares, e que eventos como
estes são importantes para se conhecer novos artistas, valorizar talentos
locais: “a gente tem muito artista bom aqui, de todos os estados do país”.
Gisel Rosso, artista argentina, em sua primeira participação no Meeting, revela
que o encontro abre fronteiras para o diálogo, e que a arte de rua cresceu
muito na América Latina nos últimos tempos.
Valorização advinda também do
público que visita o espaço e contempla as imagens que aos poucos vão tomando
mais vida. Em cada passo uma nova descoberta. Jussara Pereira, professora; e
sua mãe Albina Pereira de 87 anos, não perderam tempo! Logo que tomaram
conhecimento sobre o Encontro Internacional ser realizado novamente em Rio
Grande, decidiram prestigiar. Nos conta a educadora: “vim trazer a minha mãe,
que desde que leu a notícia no jornal está falando em vir olhar, pois no ano
passado ela achou muito bonito. Está ficando uma construção bem bonita.” Dona
Albina nos diz que o que lhe chama mais atenção é a pintura realizada por
artistas que mesmo sem formação na área produzem grandes obras.
O município do Rio Grande ganha novamente este
grande presente em forma de arte: para comunicar, informar, transformar a
paisagem e o olhar.
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